TVD e Globo: estratégia altamente definida
Por Manuela Allain Davidson
Passado o primeiro turno das eleições vamos voltar a falar sobre o Fernando Bittencourt e a estratégia de tevê digital (TVD) da Rede Globo. Este post começou na semana passada, depois de um seminário promovido pelo Centro de Informática (CIn) da UFPE. O Bittencourt foi chamado para abrir a série de eventos e falou sobre o tema do ano: TVD.
Todo mundo sabe que o grande barato da Globo nesse negócio de TVD é a alta-definição. Mas imagino que alguns de vocês, assim como eu, ainda se perguntem o porquê disso. Afinal, alta-definição é só uma melhoria na imagem e no áudio da TV aberta e a digitalização da tevê abre portas para coisas muito mais interessantes como interatividade e multiprogramação.
A lógica da Globo é a de que a nova tecnologia não deverá mudar as regras do mercado publicitário nacional. A televisão continuará sendo um veículo de massa, mas com um intervalo comercial mais rico em cores, formas e som estéreo surround. Só isso. O detalhe é que para assistir essa tevê turbinada o telespectador precisa ter uma televisão tão bem definida (e cara) quanto o conteúdo transmitido. Caso contrário, o máximo que os usuários vão ver é uma imagem padrão de DVD - o que já é uma excelente evolução para a TV aberta.
Mas quem tem dinheiro pra comprar esses displays de luxo também tem dinheiro para comprar um PVR (Personal Video Recorder), receptor que permite não só gravar programas ao vivo como também pular os intervalos comerciais. Com o fim dos intervalos decretado nas classes A e B, como é que as futuras campanhas vão atinigir esse público-alvo?
O pessoal das classes C, D e E, segundo o Bittencourt, vai se afogar em dívidas para comprar seu novo 'objeto de desejo'. Ou então, vai adotar a estratégia do sempre afiado Sílvio Meira, do CIn, que é "esperar que a prefeitura compre essa super tevê e sentar na praça, todo mundo junto, pra assistir o repórter e a novela das 8". De uma forma ou de outra, Bittencourt acredita que a alta-definição por si só vai ser motivo para estimular o brasileiro a passar mais tempo na frente da tevê.
INTERATIVIDADE
Não é que a turma globeleza não pense em interatividade. Até porque com um Globo Media Center e G1 na Web, seria incoerente que eles não investissem também em aplicações interativas para seus programas na tevê. Mas essa parece ser uma questão delicada para a Globo.
Se num determinado momento Bittencourt diz que a área interativa tem que ser tão bem feita quanto os programas que levam a marca da emissora, por outro ele afirma categoricamente que "não colocaremos nada na área interativa que tire o telespectador do programa". Nem anúncios?! [me perguntei]
"Pode ser que daqui a cinco anos a gente mude de idéia. O que nos interessa é a audiência, não outra coisa". Eu particularmente acho que eles vão mudar de idéia muito antes disso. Mas o cúmulo da presunção para mim foi a seguinte afirmação: "Não espero que saia nada competitivo de emissoras concorrentes até porque elas não têm dinheiro para investir e não têm capacidade de satisfazer o telespectador...". Apesar de reconhecer uma certa verdade na declaração, como telespectadora eu não vejo a hora de assistir o ilustre engenheiro mordendo a língua.
MULTIPROGRAMAÇÃO
Ihhh... desse bicho o homem nem fala. O que ele repete é o velho discurso da Globo (que também tem operações de conteúdo fechado via NET Serviços e SKY). "Multiprogramação em definição standard não aumenta a renda publicitária. O mercado publicitário não muda com a tecnologia, só com a renda do País". Tá, eu até concordo parcialmente com isso... Mas querer comparar o público das tevês por assinatura (são pouco mais de 8% dos brasileiros, segundo o próprio Bittencourt) com os 95% de audiência da tevê aberta é brincadeira, né?
Eu acredito em demanda reprimida no Brasil... e a experiência da Europa mostra que o telespectador está sempre disposto a consumir mais tevê quando lhe são dadas mais opções (canais) e programas inovadores, de qualidade. Eu quero exercer minha liberdade de zapping em mais canais! E vocês?
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terça-feira, outubro 03, 2006
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