quinta-feira, setembro 14, 2006

Globo capacita engenheiros para SBTVD-t
Por Manuela Allain Davidson



Jogadores profissionais de xadrez sabem que o resultado de cada partida pode ser definido já no primeiro movimento que fazem com as peças. E a vantagem, claro, é de quem sai na frente. No mercado brasileiro de televisão, ninguém entende melhor o termo ‘vantagem competitiva’ do que a Rede Globo. E enquanto seus concorrentes esperam que as eleições passem e que o futuro governo (re) eleito dite as regras do jogo do SBTVD (nossa tevê digital aberta), a empresa investe pesado na capacitação de seus profissionais.

Esta semana eu peguei carona num desses treinamentos que a emissora está dando às suas equipes de Engenharia e Rádio-Frequência (RF) em todo País. Fui a estranha no ninho, única mulher e profissional da área de Comunicação a ficar com a bunda absolutamente quadrada ao final do curso intensivo que durou três dias. Por isso peço desculpas pela ausência aqui no MADPixel. E me antecipando a possíveis perguntas, não, não faço parte do time Globeleza (mas o futuro a Deus pertence).

As aulas foram ministradas pelo José Raimundo Cristóvam Nascimento, um dos papas em TVD via satélite aqui no Brasil e fundador da Unisat Engenharia de Telecomunicações. Me chamem de doida, mas adorei a oportunidade de entender melhor a eletrônica por trás do processo de transmissão de tevê digital, as fórmulas para cálculo de aproveitamento de largura de banda e outros tecno-detalhes que foram claramente explicados por lá. Mas, jornalisticamente, o que mais me chamou a atenção foi uma pergunta levantada – e respondida – pelo instrutor do curso.

Se hoje cada broadcaster envia áudio e vídeo para a casa dos telespectadores, de forma independente e sem maiores complicações, a partir da adoção da TVD será preciso que um agente intermediário (único) organize as atualizações dos softwares que serão enviados para cada uma de nossas caixinhas receptoras (STB). Faz sentido, até porque como consumidores nós teremos inúmeras STBs diferentes para escolher e comprar, com preços e potencialidades tecnológicas distintas. E as transmissões, independente de quem seja o transmissor, precisam chegar inteiras até o telespectador.

Pra complicar essa equação ainda mais, lembrem que a TVD além de áudio e vídeo, carrega pacotes de dados. Então quem vai ser o coordenador desse novo universo? A Anatel? Um novo órgão regulador? Um comitê formado por representantes de cada emissora? Ou a emissora de maior presença em todo o País?

Na Inglaterra, a missão ficou a cargo da BBC, que além de ser a pioneira naquele país é uma empresa estatal e de serviço público. O serviço de Multiplex da BBC controla, por exemplo, a alocação de banda para as demais emissoras de TV – o que além de desconforto, limitava planos de multiprogramação e interatividade de canais comerciais como o Channel4, onde estagiei.

Mas a história da televisão aqui no Brasil é outra. Nossas emissoras já nasceram comerciais e independentes. A opinião do Cristóvam é de que, como ninguém está falando nisso mesmo e a Globo é a empresa de maior penetração no País, a missão vá ficar para os globais. É uma coisa meio 'one ring to rule them all'. Eu acho que muita água ainda vai passar debaixo da ponte... E vocês? Alguma opinião formada sobre o assunto?

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