quinta-feira, julho 27, 2006

Brasil viu a Copa pela TV digital

Nem peso em excesso nem bolhas e nem salto-alto. Aqui o assunto é outro. A Copa do Mundo acabou-se há tempo e a seleção canarinha voou pra casa logo depois de cruzar com os compatriotas franco-atiradores de Zidane... mas, 'meninos, eu vi'. Eu vi a Copa do Mundo interativa que a DirecTV, operadora de tevê digital via satélite (DVB-s) - em processo de fusão com a veterana Sky no Brasil - organizou como cobertura do evento.

A idéia de apresentar o conteúdo com recurso de multicâmera e diferentes idiomas a serem escolhidos pelo telespectador foi uma boa sacada. Previsível, já que pelo mundo a fora esse tipo de cobertura virou rotina [A BBC foi uma das primeiras a usar essa estratégia durante o campeonato de tênis de Wimbledon e hoje usa até para cobertura de eventos de jardinagem]. Mas bato palmas pela iniciativa que permitiu a mim e ao meu marido - um australiano que se descobriu socceroo durante a Copa - assistirmos a partida que decidiu o futuro do time no mesmo dia em que o Brasil derrotou o Japão de Zico.

As câmeras da DirecTV [imagens da Fifa e ESPN] foram separadas em seis canais pelos quais os telespectadores navegavam via zapping, aquele click frenético do controle remoto. Usando os canais como fonte de conteúdo, a operadora criou um menu de serviços interativos (ISM) que aparecia randomicamente na tela, lembrando telespectadores que havia mais opções de zapping. O ISM também poderia ser convocado pelo usuário via controle remoto, através do uso dos botões direcionais [setas], select e enter.

A falha da operadora foi ter replicado todos os canais do que batizaram de Mundial Total no guia de programação eletrônico (EPG). Tudo bem que em dias de partidas simultâneas os dois jogos estivessem sinalizados no EPG para o telespectador saber as opções de programação. Mas quando você replica o mesmo conteúdo do ISM no EPG o consumo de banda [transmissão de dados] do ISM parece completamente desnecessário. Como uma estratégia mais certeira, a operadora deveria ter optado por deixar os canais de 'câmera 1', 'câmera 2', 'o melhor' e 'campo' ocultos no EPG.

Por ser um recurso novo, que estava sendo apresentado aos usuários, também faltou no ISM uma opção de 'ajuda' que instruísse quanto ao uso do aplicativo. As fichas dos jogos por grupos, comparativos de resultados das partidas, melhores momentos em vídeo e jogador destaque de cada rodada foram informações interessantes, distribuídas como programação junto a comerciais. Mas por que não colocar esse conteúdo tão interessante no ISM? O pessoal do Cesar, daqui de Pernambuco, fez um aplicativo parecido para a NET Serviços [DVB-c], antiga Globo Cabo, aproveitando de forma mais apropriada esse material.

Quem deve ter lucrado com a iniciativa foram os dois únicos anunciantes a fechar com a DirecTV no patrocínio do Mundial Total. Mais exposição, impossível. Os anúncios se repetiam sistematicamente em looping nos intervalos comerciais ou quebras da programação.

Dado o timming do governo Lula, que prometeu durante tanto tempo uma Copa digital para todos em 2006, as iniciativas das operadoras de TV paga valeram para deixar o gostinho da interatividade que ainda está por vir.




Modelo de ISM australiano com opção de ajuda [Help]


Catalunya experimenta ISM mais complexo

2 comentários:

Anônimo disse...

muito interessante. Você identificou ideias chave no caminho ao futuro de ferramentas digitais. Talvez a gente pudesse trabalhar junto no futuro

Fabiano Gallindo disse...

Perfeito Manuela,
Bem desenvolvido e fácil de ler.
Já está no meu "Favoritos".
Grande abraço e sucesso!
Fabiano