Interatividade digital no centro das revoluções
Nos meus tempos de faculdade era comum ouvir professores dizendo que a Internet substituiria as mídias impressas. O ano era 1995, a Grande Rede mal tinha sido aberta ao público brasileiro de forma comercial e apenas um outro tecno-doido da turma de 60 estudantes, além de mim, tinha o costume de se enfiar em salas de chat na tentativa de desbravar esse novo mundo que se escondia atrás do computador. Aliás, justiça seja feita, se a universidade não disponibilizasse um centro de informática razoável, tenho a impressão de que muitos de meus amigos sequer saberiam ligar um computador. Seriam jornalistas perdidos na pré-histórica era das máquinas de escrever.
A teoria apocalíptica do fim da mídia impressa no entanto nunca me convenceu. Hoje, tenho a certeza de que o surgimento da Internet foi o início de uma revolução democrática, solidária ao papel. Além de servir de aliada para pesquisas jornalísticas, a Rede introduziu a interatividade num País que perdeu a voz durante os transtornados 'anos de chumbo'. Aqueles do 'Cálice' (cale-se) que nem a poesia de Chico Buarque conseguiu afastar.
Politicamente, a minha geração ficou estigmatizada como apática, desarticulada, desinteressada, morta. Talvez porque a censura e a pressão dos anos de governo militar tenham se arraigado entre os que nos precederam. 'Escolher? Contestar? Pra quê, se nada muda?!'. A Internet devolveu a seus usuários uma voz que se julgava perdida. Não substituiu nem substituirá a mídia impressa, mas mudou a forma unilateral com que os veículos de comunicação tradicionais se relacionavam com o público. Agora, além de receber informação o público também gera. É uma via de informação com mão-dupla. Já repararam nos blogs [ou weblogs, registros online em português] políticos que estão no ar nos portais de comunicação do País? Uma quantidade considerável de posts desafia os autores de textos, questiona suas posturas éticas e inclinações partidárias. Algo me diz que a convivência com a interatividade está direcionando o Brasil a uma via de escolhas conscientes e valorização de sua liberdade de expressão.
É verdade que nesse reencontro com a liberdade alguns cometem abusos, extravasando o gozo através de uma linguagem de baixo calão e desrespeitosa. São testes de limite de uma geração infante [veja bem, não é uma questão de idade cronológica] que busca descobrir até onde vai seu espaço. O alemão Emanuel Kant (1724-1804), considerado o maior filósofo da época moderna, levantou respostas para esse dilema moral ao formular uma lei universal do direito que "atua externamente de maneira que o uso livre do arbítrio de um possa estar de acordo com a liberdade de qualquer outro segundo uma lei universal". Em resumo, cada um de nós possui uma liberdade individual que deve respeitar a liberdade individual alheia. É esta lição que muitas recém-nascidos em interatividade ainda precisam aprender. Mas o tempo é nosso aliado.
A revolução digital interativa dos meios de comunicação não se detém à Internet. Espera-se que a adoção do padrão de TV digital aberto, com acesso diferenciado à informação, possa estender essa onda por todo o Brasil - ou pelo menos na parte do País que possui corrente elétrica e pelo menos uma tevê em casa. Mas a maior vedete do momento em termos de comunicação interativa é o telefone celular. Além de conectar seus usuários por voz à distância, esses pequenos e adoráveis dispositivos móveis estão cada vez mais versáteis, reunindo voz, arquivos de música (MP3), rádio, texto, foto, vídeo, acesso à Web e TV num só equipamento. É o exemplo máximo de convergência de mídias.
Se a Internet foi a primeira onda de reeducação interativa no Brasil, a segunda e a terceira rapidamente crescem e avançam em direção ao continente tupiniquim sob forma de um poderoso Tsunami: a TVD interativa [com conteúdo sob demanda e acesso móvel] e a mobiTV, uma televisão que vira oficialmente MEIO de comunicação ao invés de VEÍCULO - e com a mesma portabilidade de uma carteira.
O grande desafio para nós, produtores de conteúdo, vai ser acompanhar a transformação que acontece em nossos leitores, ouvintes, telespectadores, internautas, ou seja lá que outro nome os usuários dessa nova tevê recebam. Uma coisa é certa, o nível de exigência do nosso público-alvo será ainda maior. E para gerir comunicação como unidade de negócio, teremos que liderar as mudanças, criar o novo, seduzir e cativar clientes em potencial.
quarta-feira, julho 26, 2006
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2 comentários:
Hum! Gostei da foto do Treo! Quase dei um de doido e comprei um pra mim hoje. Mas no fim das contas achei muito grande! Boa sorte com o espaço Balu! Vou pensar em coisinhas para aproveita-lo tb! Bjo grande e sucesso!
Hum. sobre o post. Me senti a outra pessoa do lead! hehheheh!
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